Ao renegociar seus convênios com a instituição, os exportadores estão sendo comunicados de reduções significativas de recursos
A Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) vai cortar um quarto de suas despesas este ano, apesar da acirrada competição nos mercados internacionais provocada pela crise e da necessidade de elevar as vendas externas para reduzir o déficit em conta corrente do País.
Diferentes setores relataram ao Estado cortes de cerca de 30% nas verbas dos projetos. Esse porcentual não foi confirmado pela agência.
Os empresários preferiram não se identificar por receio de retaliações do governo. A Apex argumenta que está atendendo mais setores e desconcentrando os recursos, mas não informa a verba destinada a cada um. A entidade admite um corte de apenas 7% no total investido nos convênios este ano.
Os acordos entre o setor privado e a Apex são selados pelas entidades de classe, que apresentam um projeto ao governo. Para cada R$ 1 investido pela Apex, os exportadores aplicam R$ 1. Portanto, o efeito para as exportações de um corte de recursos da Apex é duplicado.
As despesas da Apex - que incluem projetos de apoio à exportação, pagamentos de funcionários, gastos com viagens e outros eventos - serão reduzidas de US$ 407 milhões em 2009 para R$ 306 milhões em 2010. Isso significa um corte de 25%. O aperto será necessário apesar da previsão de 10% de aumento nos recursos repassados pelo governo.
Um dos braços do sistema S, como Sebrae, Senai e Sesi, a Apex dispõe de dinheiro "carimbado" do INSS. Essas entidades recebem um porcentual do que é descontado dos trabalhadores. Com a recuperação da economia e o recorde de geração de empregos, os recursos para a Apex vão atingir R$ 250 milhões em 2010.
Caixa. O problema é que a agência consumiu quase todo o seu caixa. Dos R$ 145,7 milhões que tinha no começo de 2009, sobraram US$ 36,7 milhões no início deste ano, conforme dados do orçamento disponíveis na internet. De acordo com o diretor de gestão e planejamento da Apex, Ricardo Schaefer, a Apex decidiu investir todos os recursos na promoção das exportações, em vez de guardar. Ele disse que a meta é virar o ano com R$ 20 milhões.
O dinheiro do caixa foi gasto na contratação de funcionários, numa nova sede em Brasília e no patrocínio de eventos como carnaval e Fórmula Indy. As mudanças começaram com a chegada do economista Alessandro Teixeira à presidência da entidade, indicado pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Na gestão de Teixeira, o número de funcionários triplicou. Eram 79 no início de 2007 e hoje são 332 - 217 por concurso público. A Apex gastou R$ 3 milhões na reforma da sede. A entidade decidiu fazer do local um "cartão de visitas" do País, com salas decoradas com os produtos exportados. O objetivo é impressionar embaixadores e importadores. Segundo a Apex, boa parte dos móveis foi doada.
Em projetos especiais, a agência informou ter gasto R$ 14,5 milhões em 2009 e prevê R$ 13,6 milhões este ano. O maior peso é o patrocínio da Fórmula Indy, que custa R$ 10 milhões por ano. A Apex possui um camarote nas corridas para aproximar empresários brasileiros e americanos.
Outro gasto significativo é no carnaval. Desde 2009, a Apex tem camarote na Marques de Sapucaí e convida empresários e jornalistas estrangeiros. Paga passagens aéreas, hospedagem, e os visitantes têm direito de assistir aos desfiles. Segundo a Apex, foram gastos R$ 3 milhões em 2009 e R$ 1 milhão este ano.
Para Schaefer, os projetos especiais são uma "inovação" na promoção comercial. Ele ressalta que a entidade também promove feiras multissetoriais. Segundo Schaefer, a contratação de funcionários reforçou a análise econômica e financeira da agência. "Preciso de profissionais qualificados." Em média, um gerente de projetos recebe R$ 10 mil por mês. Ele disse que a troca de sede foi necessária porque a antiga era "insalubre".
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