CAIRO, Egito e GENEBRA, Suíça – Ao se observar um mapa comum do continente africano, observam-se linhas de fronteiras extremamente retas, em uma categoria claramente matemática. O motivo óbvio para tal disposição é justamente a divisão imposta pela Europa, no século XVIII e XIX, ao estabelecer suas colônias e áreas de influência.
Atualmente, as penetrações no Continente Negro são menos claras e as demarcações menos fáceis de serem calculadas. Contudo, é notável a crescente participação da China nos países da região, que vem causando receio em especialistas na área.
A China tem uma história bastante vasta de envolvimento com a África, que remonta aos primórdios dos movimentos de independência na década de 1960. Nesse período, Pequim se limitou a influenciar através da diplomacia – com poucos investimentos diretos.
Contudo, o investimento decolou na década de 1990, atrelado ao crescimento vertiginoso da China e sua crescente demanda por commodities, principalmente petróleo.
“O interesse maior na África está nas fontes de energia, devido à dificuldade de acesso ao petróleo do Oriente Médio, destinado prioritariamente ao Ocidente”, afirma Gustav Broom, especialista em Segurança Energética.
No campo do ‘ouro negro’, Pequim mantém estreitas ligações com inúmeros países africanos, muitos com sistemáticos problemas relacionados, por exemplo, aos direitos humanos. O Sudão, por exemplo, foi financiado na década de 1990 para expandir sua indústria petroleira, atualmente com uma receita de quase US$ 2 bilhões por ano – metade para a China. Na Nigéria, a potência asiática colocou US$ 2,7 bilhões na compra dos direitos de exploração. Por sua vez, Angola, que é atualmente a maior fornecedora de petróleo para a China, recebeu investimentos que passam os US$ 2 bilhões nos últimos 5 anos.
Recentemente, a revista Economist publicou uma lista que demonstra que quatro dos dez maiores exportadores de óleo bruto para a China se encontram na África – o continente já corresponde a 30% de todo o petróleo importado por Pequim.
“Na lista de importações também estão o algodão bruto do Oeste do continente, além de cobalto, cobre, minério de ferro e platina. Além disso, há casos de arrendamentos de terras no leste para a produção de alimentos”, acrescenta Broom.
Efeitos colaterais
A grande diferença dos investimentos chineses, apontam os especialistas, está justamente em certas particularidades ainda difíceis de serem calculadas. Em primeiro lugar, Pequim não atrela nenhuma prerrogativa para efetuar tais ações. Enquanto países ocidentais – e até mesmo órgãos multinacionais, como o FMI e o Banco Mundial – exigem que as nações cumpram pré-requisitos em pontos como direitos humanos e participação privada. Pequim, por outro lado, não cita tais questões.
“Isso provoca receios em certas regiões. Pode ser considerado um sinal para que ditadores continuem suas ações, porque sempre haverá investimento de algum lugar”, afirma Elisabeth Montmerry, especialista em Direitos Humanos da Universidade de Gotland, na Suécia.
Outro ponto interessante é a venda e compra de grandes somas de terras. No sul da Etiópia, por exemplo, há casos em que Pequim arrendou grandes áreas e as cercou. Por se tratarem de países instáveis e com governos ainda não consolidados, teme-se que tais zonas tornem-se literalmente protetorados. “Não há aparelhos jurídicos para se esclarecer realmente quais são as intenções e direitos nesses pontos”, conclui Montmerry.
Com o crescimento apontado nos últimos anos pela China e os indicadores de que irá demandar cada vez mais de commodities, é de se esperar que os investimentos em território africano cresçam substancialmente. “Podemos estar presenciando o surgimento de novas relações comerciais estratégicas que excluem totalmente o Ocidente”, aponta Broom.
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