quinta-feira, 7 de outubro de 2010

ABIMAQ: MÁQUINAS CHINESAS PREOCUPAM


Transcrevemos abaixo o relato das atuais dificuldades vividas pelo setor de bens de capital no Brasil, diagnosticadas em estudo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ).

"Quando um país apresenta juros altos, carga tributária elevada e câmbio sobrevalorizado, o segmento industrial começa a perder espaço primeiro lá fora, e em seguida, perde competitividade também no mercado interno. Mário Bernardino in Custo Brasil, 2010."

“O custo da produção nacional de máquinas é 100% maior do que o da China. O setor de bens de capital nacional vem perdendo mercado devido à sobrevalorização do real em relação ao dólar e ao elevado custo de produção nacional, que chega a ser 100% maior quando comparado ao custo de máquinas e equipamentos fabricados na China e 43,85% superior ao dos produzidos em países como a Alemanha e os Estados Unidos. O alerta é do estudo denominado "Custo Brasil", realizado pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Para reverter este quadro, a entidade propõe uma série de ações a serem adotadas pelas empresas e pelo poder público.
Para chegar ao diagnóstico, o levantamento avaliou oito componentes do custo Brasil: relação da política monetária com o capital de giro; preço dos insumos básicos; impostos não recuperáveis na cadeia produtiva; encargos sociais e trabalhistas; logística; burocracia e custos de regulamentação; custos de investimentos; e custos de energia.
De acordo com o diretor da regional mineira da Abimaq, Marcelo Veneroso, a preferência pelos bens de capital asiáticos ocorre em decorrência do preço menor e não tem vínculo com a qualidade. "Mesmo com todos os custos da importação, como logística e taxas alfandegárias, tem sido mais interessante para as empresas a aquisição de máquinas e equipamentos no exterior. Se não tivermos uma ação conjunta entre as empresas do segmento e a iniciativa privada logo, não será possível reverter o processo de desindustrialização na indústria de máquinas", alertou.
Grandes companhias como a Gerdau Açominas, em Ouro Branco, no Campos das Vertentes, e a ArcelorMittal, por exemplo, já estão importando máquinas e equipamentos de países asiáticos. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) realiza inversões de R$ 11 bilhões em Congonhas, no Campos das Vertentes, incluindo a construção de uma usina produtora de aços longos. Conforme já foi confirmado pela companhia, os equipamentos foram adquiridos na Ásia.
Segundo a Abimaq, a China já passou a Alemanha, que era até agosto a segunda maior fornecedora de máquinas do país. No primeiro semestre, os chineses foram o terceiro maior exportador de máquinas para o Brasil, com vendas de US$ 1,594 bilhão, respondendo por 11,9% das importações do setor no país.
O consultor econômico da Abimaq e coordenador do estudo "Custo Brasil", Mário Bernardino, apresentou o estudo ontem a empresários e representantes do setor público no Hotel Quality Afonso Pena, no bairro Mangabeiras, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Na reunião, eles discutiram a política industrial brasileira, assim como o atual cenário da indústria de bens de capital.
PIB - Segundo o consultor, a importância de discussões como a competitividade dos produtos nacionais está diretamente relacionada ao crescimento ordenado e sustentável do país. "Todos sabemos que neste ano o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deverá crescer acima de 7% mas, para o próximo exercício, as previsões são de 4,5% e em 2009, o índice foi zero. Fazendo uma média, percebemos que estamos crescendo abaixo de 4%, o que nunca vai nos permitir ser um país desenvolvido. Além disso, se quisermos alcançar um crescimento ordenado e sustentável, será preciso impedir o processo de desindustrialização", alertou.
Conforme Bernardino, a competitividade aparece entre as principais preocupações de todo o setor industrial, principalmente, em um momento em que o país tem perdido espaço, tanto no mercado interno, quanto no externo. "Quando um país apresenta juros altos, carga tributária elevada e câmbio sobrevalorizado, o segmento industrial começa a perder espaço primeiro lá fora, e em seguida, perde competitividade também no mercado interno. E o setor de máquinas e equipamentos tem registrado um aumento cada vez maior da participação dos importados", advertiu.
Em julho, as importações de máquinas do país atingiram a maior marca mensal em 70 anos: US$ 2,253 bilhões, com crescimento de 52,6% ante julho de 2009.
Estratégias - Para promover o aumento da competitividade do setor de bens de capital no país, o consultor econômico da Abimaq citou uma série de fatores, divididos entre competitividade sistêmica e empresarial. A primeira engloba as possíveis ações a serem adotadas pelos governos federal e estadual, como redução da carga tributária, investimentos em infraestrutura e logística, eliminação do custo Brasil e administração do câmbio, entre outros.
Já a competitividade empresarial, que trata das ações a serem adotadas pelas empresas do segmento como forma de aumentar a competitividade dos produtos, prevê principalmente investimentos em informação, gestão e inovação, de acordo com consultor econômico. "As empresas precisam, cada vez mais, incentivar a melhoria contínua da gestão e dos processos produtivos; apoiar financeiramente a capitalização da reestruturação do setor e sua internacionalização; e implantar sistemas eficientes de combate ao dumping, à concorrência desleal e aos usos abusivos", exemplificou.
Imposto maior - A Abimaq está elaborando um documento em que reivindica o aumento da alíquota do Imposto de Importação de 14% para 35% para os equipamentos comprados no exterior e que tenham similares nacionais. "Esta é uma medida drástica que preferíamos não ter que tomar. Estamos discutindo ainda mas, diante das ameaças que o parque industrial nacional está sofrendo, temos que avaliar esta opção", afirmou Bernardino.
Conforme a Abimaq, a tributação de 35% está de acordo com o teto das alíquotas de importação, segundo as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). A entidade defende o aumento do imposto em caráter emergencial para estancar o processo de desindustrialização pelo qual passa a indústria de máquinas.” (fecham aspas)

Fonte: Diário do Comércio / MG, 29/09/2010.

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