Desde abril de 2007, a Resolução nº 12 da Camex autorizou as exportações em reais e, desde outubro de 2008, é possível a utilização do Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML) para exportar para a Argentina. Adicionalmente, temos observado na imprensa, corriqueiramente, manifestações do presidente Lula incentivando a utilização das moedas locais e a intenção de seu governo em expandir a sistemática para outros países. Já se falou na utilização de moedas locais e do SML com a Rússia, China, Índia, Paraguai,
Venezuela, Chile e Colômbia. Entretanto, ao exportador, resta a dúvida de esse tipo de operação lhe ser vantajoso ou não Buscarei apresentar, resumidamente, alguns fatores que tendem a esclarecer essa questão.
Surge, assim, o pergunta central: vale a pena exportar o meu produto em reais? A resposta é simples, mas, infelizmente, não é conclusiva: depende! Vamos analisar, então, quando poderá ser vantajosa a utilização do SML.
A primeira consideração a ser feita é que a utilização da sistemática é extremamente simples. Ao exportador brasileiro bastará informar ao comprador argentino os seus dados bancários. No dia do pagamento, o importador o deverá efetuar na Argentina e, em aproximadamente três dias, o dinheiro estará disponível para depósito na conta-corrente do exportador no mesmo valor (em reais) em que a operação foi contratada. Deve-se ressaltar que, para a utilização do SML, essa operação deverá ter sido firmada em reais, ou seja, a fatura (invoice) e o RE deverão ter sido registrados em reais.
Um dos conceitos básicos é que todo empreendedor deve compreender seu ciclo financeiro e essa compreensão será de grande importância para que a vantagem da exportação em reais seja analisada.
Como o principal benefício do SML para o exportador é eliminação do risco cambial, toda vez que os pagamentos a serem realizados pelo exportador forem predominantemente denominados em reais, a venda das mercadorias em reais será, em princípio, vantajosa, pois quem exportou terá a certeza do valor que irá receber em reais na data do pagamento.
Mas se é eliminada a chance de o exportador “perder” num cenário de apreciação do real, também será de ele “ganhar” quando a nossa moeda se desvalorizar. Falamos aqui em “perder” e em “ganhar” com o câmbio. Notemos que o negócio do exportador é vender a um bom preço e não obter seu lucro da negociação da moeda.
Assim, devemos entender que a corriqueira afirmação de que o exportador perderia a possibilidade de fazer o câmbio em um momento mais apropriado considera que são feitas conjuntamente duas operações: a comercial e a financeira. O ganho cambial sempre foi fonte de renda adicional quando a moeda brasileira sempre se depreciou em relação ao dólar. No cenário atual, a livre flutuação da moeda não permite mais essa previsibilidade de retorno financeiro com a aposta contra a moeda nacional. Assim, se o exportador não é conhecedor do mercado financeiro e nem tem interesse em se dedicar a essa área, a utilização do SML será de extrema importância no sentido em que lhe garantirá maior previsibilidade do montante de sua receita.
Todo esse raciocínio é válido para o exportador que tem suas despesas também fixadas em reais. Se a operação comercial for comprar produtos, por exemplo, chineses (em dólares) e revendê-los para a Argentina não haverá sentido, em termos de redução de risco, em se falar na utilização do SML, pois deverá vender em reais. Por outro lado, se a empresa produz o seu artigo no Brasil com uma estrutura de custos em reais, ou seja, mão de obra em reais, insumos em reais, a operação de venda para a Argentina em reais pelo SML será financeiramente similar a qualquer outra venda para o mercado nacional. Se produz milho no Paraná, com uma estrutura de custos baseada em reais, a sua venda para a Argentina por meio do SML permitirá que o planejamento dos pagamentos do ciclo financeiro, que serão principalmente em reais, dê-se como se a venda houvesse sido realizada para um comprador localizado em São Paulo. Isso pode facilitar ainda maior resiliência do produtor porque permite maior substituição entre compradores no mercado externo e no mercado interno.
Mas se a operação de venda em reais pelo SML é consideravelmente menos complexa (e menos onerosa) que realizar as tradicionais contratações de câmbio, o financiamento dessas exportações apresentará maiores dificuldades. O exportador acostumado a utilizar o ACC e o ACE ainda não encontra disponível, nos bancos, produtos similares para operações firmadas em reais. Espera-se que essa oferta aconteça à medida que as exportações em reais se tornem mais frequentes e, portanto, o financiamento em reais mais demandado. Esse parece ser o principal entrave ao SML, atualmente, e exportadores dependentes desse tipo de financiamento no seu ciclo financeiro, certamente, não encontrarão ainda um cenário propício à utilização do SML.
Estes foram alguns simples comentários, mas que, se adequadamente considerados, serão decisivos para o sucesso de seus negócios em reais. Boas vendas a todos!
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