Os carros chineses chegaram ao Brasil em 2006. Agora, no entanto, é para valer: montadoras vão passar a fabricar no Brasil para conquistar 5% do mercado em cinco anos. Mas antes precisam mostrar que seus carros têm qualidade
Cleide Silva, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O executivo Zhou Biren, de 53 anos, deixa a China várias vezes ao mês para visitar filiais ou futuros parceiros da montadora Chery, estatal chinesa com pretensão de ser uma companhia global. Presidente da divisão internacional da empresa, Biren só viaja de classe econômica, mesmo para trajetos longos, como o Brasil, e hospeda-se em hotéis três estrelas. Seu escritório em Wuhu, na província de Anhui, fica no 5.º andar de um edifício sem elevador.
O estilo espartano da Chery também é levado para os seus produtos. Atualmente, Biren negocia com três cidades brasileiras a instalação de uma fábrica para produzir carros compactos, o segmento que mais vende no País. Para concorrer com gigantes como Fiat e Volkswagen, a estratégia será oferecer preço baixo. A fórmula é aplicar na produção a política batizada de LCC (sigla em inglês para low cost car, ou carro de baixo custo), que implica praticar a economia em todas as áreas, incluindo a administrativa.
"A economia ao adotar despesas baixas em todas as áreas do negócio é repassada ao produto. Por isso, oferecemos preços competitivos", afirma Luis Curi, presidente da Chery do Brasil.
A Chery é apenas uma das montadoras chinesas interessadas em construir linhas de montagem de carros de baixo custo no território brasileiro. Outras cinco companhias – BYD, Lifan, Chana, Hafei e JAC – já manifestaram intenção de instalar fábricas no País, um dos poucos mercados mundiais em crescimento, além da própria China.
A ideia é desembarcar no quinto maior mercado automobilístico do mundo com parceiros locais. Alguns deles estão dispostos a bancar os investimentos necessários. Ao menos é o que declaram os representantes brasileiros dessas marcas.
Por enquanto, os empresários apenas importam os modelos da China. A primeira marca importada no País foi a Chana, em 2006. A partir daí, vieram as outras. Essa foi a estratégia encontrada para desbravar o concentrado mercado local. Três em cada quatro carros vendidos no País são da Fiat, VW, GM e Ford, as quatro maiores fabricantes.
Se as projeções para este ano se confirmarem, as vendas de carros chineses devem ficar próximas de 25 mil unidades, quase 0,8% do total previsto pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), de 3,2 milhões de automóveis e comerciais leves, um volume recorde.
O número seria quase nove vezes maior que o de 2009, quando os brasileiros compraram 2,8 mil carros de origem chinesa, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Para 2015, as projeções de empresários e analistas são ainda mais otimistas: cerca de 200 mil carros chineses serão vendidos no País, ou 5% das vendas totais previstas para o período, de cerca de 4 milhões de veículos.
Os veículos chineses levam 45 dias para chegar ao Brasil. O imposto de importação é salgado: 35% do valor do carro. E ainda incidem outros tributos em cascata, além dos gastos com frete e adaptações para o mercado local. Mesmo com tudo isso, os chineses prometem carros mais baratos e mais equipados de fábrica, com freio ABS, airbag e ar-condicionado, itens normalmente vendidos como opcionais.
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