segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Perda de qualidade nas vendas externas / Editorial econômico


Os resultados do comércio exterior de 2010 acusam redução de 19,8% no saldo da balança comercial, embora as exportações apresentem aumento de 31,4% pela média por dia útil, que acabou contrabalançado pelo aumento de 41,6% das importações.

Esses resultados, que destacam os efeitos negativos da valorização do real ante o dólar, escondem uma deterioração da qualidade das vendas externas, com as commodities superando as exportações de produtos industrializados, graças a uma demanda excepcional dos países asiáticos de produtos agrícolas, que favoreceram uma forte alta de preços. O resultado de dezembro é meio duvidoso, por causa de uma alta anormal das exportações de petróleo bruto.

Verifica-se, em face do resultado global das exportações do ano, que o Brasil está se transformando em vendedor de commodities, cujo aumento foi de 44,7%. Isso, em si, não seria negativo, se a expansão não dependesse de um número reduzido de países, com destaque para a China, ou de condições climáticas anormais que contribuíram para uma elevação excepcional de preços.

Comparados os preços de dezembro de 2009 com os de dezembro último, observa-se uma alta de 37,7% para o café, de 34,8% para a carne bovina, de 29,1% para o óleo de soja em bruto, de 27,5% para o milho e de 25,9% para o açúcar em bruto. Além do minério de ferro, cujo preço em um ano cresceu 142,2%, houve para os produtos semimanufaturados um aumento de 24,1% para os de ferro/aço, de 20,7% para a celulose e de 18,2% para o alumínio.

Em compensação, os produtos manufaturados que representavam 44,0% do total exportado em 2009, viram sua participação cair para 39,4%, com exportações que aumentaram apenas 17,7% no ano passado, o que parece indicar uma grave perda de competitividade da indústria brasileira, cuja exportação é essencialmente de bens montados no Brasil com componentes importados.

No mês de dezembro o petróleo bruto representou 27,9% do total exportado no ano de 2010, e o volume foi 89,9 % maior que o de novembro, enquanto o preço cresceu apenas 1,9%.

É lícito perguntar se um resultado tão brilhante no último mês do ano, com um superávit da balança comercial que representou 36% do obtido nos meses anteriores, não indica alguma manipulação dos dados, sabendo-se que a exportação de petróleo, ao contrário da de outros bens, é fornecida pela Petrobrás, e não pelas autoridades aduaneiras.

Fonte: O Estado de São Paulo (5/1/2011)

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