Déficit argentino cresce e traz temor de protecionismo.
O superávit comercial do Brasil com a Argentina, que cresceu 172% e alcançou US$ 4,1 bilhões em 2010, reacendeu temores de medidas protecionistas do governo de Buenos Aires, caso se confirme a previsão de manutenção da tendência de desequilíbrio em 2011.
O secretário de Comércio, Guillermo Moreno, já avisou que voltará a dificultar a entrada de alimentos processados. Produtos brasileiros como milho, molhos em conserva e biscoitos podem ser afetados. Em maio, expira o acordo de restrição voluntária das exportações de calçados à Argentina, que fixa cota anual de 15 milhões de pares. O diretor da Abicalçados, Heitor Klein, diz que há disposição dos brasileiros em renovar o acordo, mas com bases diferentes e ampliação dos embarques.
O superávit do Brasil com a Argentina cresceu 172% e alcançou US$ 4,1 bilhões no ano passado, voltando aos níveis dos anos anteriores à crise e reacendendo os temores de medidas protecionistas contra produtos brasileiros, caso o agravamento do desequilíbrio comercial persista em 2011.
Nada indica uma mudança de rota, apesar da sobrevalorização do real. Para a consultoria portenha Abeceb, o saldo deverá subir para US$ 5,5 bilhões neste ano e a aplicação de novas barreiras dependerá da evolução do comércio argentino com o resto do mundo. O superávit global do país chegou ao recorde de US$ 16,8 bilhões em 2009, mas caiu para US$ 12,7 bilhões em 2010 e a estimativa para 2011 é de US$ 10 bilhões.
O fantasma de quebra das safras de milho e de soja, devido à estiagem que atinge o interior da Argentina, ameaça reduzir ainda mais o superávit esperado para este ano. Para o economista Mauricio Claverí, da Abeceb, a tendência clara é de ampliação do déficit com o Brasil. "As exportações argentinas estão concentradas em setores como o automotivo e a metalurgia, e têm pouca margem para crescer, enquanto as vendas brasileiras são bem mais diversificadas", diz.
O secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, já avisou aos importadores locais que pretende fechar novamente as portas para a entrada de alimentos processados que tenham concorrência nacional. Em meados do ano passado, a medida foi usada e causou forte reação dos exportadores, principalmente europeus. No caso do Brasil, os principais produtos afetados foram milho em conserva, molhos e biscoitos. A barreira jamais foi formalizada e funcionou somente à base de chantagens e ameaças do secretário aos varejistas argentinos.
Outro ponto sensível nas relações comerciais voltará à pauta nos próximos meses, quando a indústria de calçados dos dois países precisará definir o futuro do acordo de restrição "voluntária" das exportações brasileiras, que expira em maio. Pelo entendimento, os calçadistas brasileiros se autoimpuseram um limite anual de 15 milhões de pares nas vendas à Argentina, em troca de cumprimento dos prazos de liberação das licenças não automáticas de importação. Agora, o acordo dificilmente será renovado nas mesmas condições.
"Nos melhores anos, chegamos a vender 25 milhões de pares", diz Heitor Klein, diretor-executivo da Abicalçados, a associação do setor no Brasil. "Em 2008, vendemos 18,5 milhões de pares. A contrapartida do acordo é que ficaríamos com 75% do mercado de importados, mas isso nunca chegou a acontecer."
De acordo com ele, os calçados brasileiros representaram 63% do total de importados pela Argentina, em novembro. O restante das importações é proveniente da Ásia, majoritariamente. Além de ter perdido participação no mercado local, a Abicalçados argumenta que já houve tempo suficiente para os concorrentes argentinos ganharem competitividade. Ele cita o fato de que muitas empresas - como Vulcabras, Dasse Paquetá- instalaram subsidiárias no país para driblar as restrições. "Tudo isso são questões que precisaremos colocar de volta na mesa."
A Argentina é o segundo maior mercado de exportação para os calçados brasileiros, em volume, e o terceiro maior, em valor. Em 2010, a estimativa é ter fechado o ano com vendas em torno de US$ 165 milhões.
Funcionários do governo brasileiro ouvidos pelo Valorminimizam o crescimento do desequilíbrio comercial e lembram que o superávit com a Argentina ainda é inferior ao registrado em 2008, quando atingiu um recorde histórico. O objetivo em Brasília é estimular as importações de produtos argentinos, mas a estratégia é dificultada pela redução da oferta do país vizinho, em particular de bens como petróleo bruto e nafta petroquímica. No ano passado, foram limitadas também as compras de trigo, por causa do péssimo desempenho da colheita.
Nos últimos dois meses, a Argentina adotou uma medida antidumping contra tubos de ferro da Fundição Tupye abriu investigação que pode resultar em sobretaxa de 70,9% às toalhas brasileiras. Mas ainda não houve uma escalada de barreiras protecionistas contra produtos "made in Brazil". O compromisso de manutenção da taxa de câmbio flutuante, no governo da presidente Dilma Rousseff, foi recebido com alívio em Buenos Aires.
O peso teve desvalorização de apenas 4,7% no ano passado, mas institutos independentes calculam variação dos preços de até 25%. Com inflação em dólares, avalia-se um real mais fraco teria consequências catastróficas para a competitividade dos produtos argentinos - por isso a sensação de alívio. Ao mesmo tempo, há grande curiosidade em conhecer Fernando Pimentel, o novo ministro do Desenvolvimento, já que a pasta é vista pelo governo da Argentina como mais agressiva do que o Itamaraty nas discussões comerciais.
Fonte: Valor Econômico (5/1/2011)
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