segunda-feira, 20 de abril de 2009

A Gangorra Cambial, a China e a Competitividade Artificial

Discussões têm aflorado nas últimas semanas no Brasil trazendo de volta o velho dilema da política cambial. Os defensores de uma retomada do crescimento econômico a qualquer custo defendem a manutenção de um real desvalorizado como saída para aumentar as exportações, gerar empregos internos e melhorar as contas externas,tornando o país teoricamente menos vulnerável a crises externas. A tese da competitividade artificial das exportações, impulsionada por uma taxa de câmbio exageradamente desvalorizada, é um dos verdadeiros segredos do sucesso das exportações de países como a China, Coréia do Sul, e, em um grau mais reduzido, Chile. Para o investidor internacional, os ativos e a mão-de-obra tornam-se ainda mais baratos em dólar, ou euro. Competitividade em exportações não significa necessariamente competitividade da economia. Pelo contrário, ao encarecer a importação de insumos básicos e dizimar as receitas de vendas locais, pode-se desestimular a oferta ao mercado interno. O modelo de substituição de exportações esbarra nos poucos interessados em produzir para o mercado interno, ainda mais em um ambiente de juros altos. O grande negócio passa a ser a exportação, o que seria ótimo em um país pequeno ou com um mercado interno imaturo. Os temores na China A discussão sobre o câmbio e sua influência na economia real não é exclusividade brasileira no momento. Há rumores de que o governo chinês poderia valorizar o yuan (moeda local), que há 9 anos está cotado a uma taxa de 8,28= US$ 1. O principal temor é dos efeitos da diminuição deste mecanismo de competitividade artificial que tem feito da China um fenômeno mundial de exportações. Dentre os riscos enumerados estão uma diminuição na produção, queda na renda e no número de empregos de maior remuneração. O que está em jogo, antes de uma política A ou B, é a manutenção de um sistema que proporcionou um determinado posicionamento dos agentes econômicos, ou a sua quebra. A argumentação de alguns analistas contrária à mudança nas regras é a mais lúcida. As economias se adaptam a qualquer regime cambial, desde que persista. Dificilmente sobrevivem ao abre-fecha de regimes ora subvalorizados, ora supervalorizados. Não há competitividade real que sobreviva aos artificialismos. Basta olhar mais uma vez para a Argentina. A velha receita de realismo cambial e evolução efetiva nos fatores sistêmicos de competitividade e diminuição do risco-país –como gestão de governo, educação, combate à corrupção, segurança interna- , ainda que de efeito demorado, é a única capaz de assegurar resultados mais duradouros com menores contra-indicações. Pensando pragmaticamente nos últimos 20 anos, a gangorra cambial ainda não liquidou o setor produtivo de capital nacional por algum DNA de sobrevivência e regeneração muito forte. Pensar em política econômica sem considerar o planejamento e a estratégia das empresas é agir como quem não entende o que é competitividade na vida real.