quarta-feira, 11 de agosto de 2010

PROMOÇÃO DE EXPORTAÇÕES - Apex vai cortar gastos e afetará promoção de exportações

Ao renegociar seus convênios com a instituição, os exportadores estão sendo comunicados de reduções significativas de recursos

A Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) vai cortar um quarto de suas despesas este ano, apesar da acirrada competição nos mercados internacionais provocada pela crise e da necessidade de elevar as vendas externas para reduzir o déficit em conta corrente do País.

Diferentes setores relataram ao Estado cortes de cerca de 30% nas verbas dos projetos. Esse porcentual não foi confirmado pela agência.

Os empresários preferiram não se identificar por receio de retaliações do governo. A Apex argumenta que está atendendo mais setores e desconcentrando os recursos, mas não informa a verba destinada a cada um. A entidade admite um corte de apenas 7% no total investido nos convênios este ano.

Os acordos entre o setor privado e a Apex são selados pelas entidades de classe, que apresentam um projeto ao governo. Para cada R$ 1 investido pela Apex, os exportadores aplicam R$ 1. Portanto, o efeito para as exportações de um corte de recursos da Apex é duplicado.

As despesas da Apex - que incluem projetos de apoio à exportação, pagamentos de funcionários, gastos com viagens e outros eventos - serão reduzidas de US$ 407 milhões em 2009 para R$ 306 milhões em 2010. Isso significa um corte de 25%. O aperto será necessário apesar da previsão de 10% de aumento nos recursos repassados pelo governo.

Um dos braços do sistema S, como Sebrae, Senai e Sesi, a Apex dispõe de dinheiro "carimbado" do INSS. Essas entidades recebem um porcentual do que é descontado dos trabalhadores. Com a recuperação da economia e o recorde de geração de empregos, os recursos para a Apex vão atingir R$ 250 milhões em 2010.

Caixa. O problema é que a agência consumiu quase todo o seu caixa. Dos R$ 145,7 milhões que tinha no começo de 2009, sobraram US$ 36,7 milhões no início deste ano, conforme dados do orçamento disponíveis na internet. De acordo com o diretor de gestão e planejamento da Apex, Ricardo Schaefer, a Apex decidiu investir todos os recursos na promoção das exportações, em vez de guardar. Ele disse que a meta é virar o ano com R$ 20 milhões.

O dinheiro do caixa foi gasto na contratação de funcionários, numa nova sede em Brasília e no patrocínio de eventos como carnaval e Fórmula Indy. As mudanças começaram com a chegada do economista Alessandro Teixeira à presidência da entidade, indicado pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Na gestão de Teixeira, o número de funcionários triplicou. Eram 79 no início de 2007 e hoje são 332 - 217 por concurso público. A Apex gastou R$ 3 milhões na reforma da sede. A entidade decidiu fazer do local um "cartão de visitas" do País, com salas decoradas com os produtos exportados. O objetivo é impressionar embaixadores e importadores. Segundo a Apex, boa parte dos móveis foi doada.

Em projetos especiais, a agência informou ter gasto R$ 14,5 milhões em 2009 e prevê R$ 13,6 milhões este ano. O maior peso é o patrocínio da Fórmula Indy, que custa R$ 10 milhões por ano. A Apex possui um camarote nas corridas para aproximar empresários brasileiros e americanos.

Outro gasto significativo é no carnaval. Desde 2009, a Apex tem camarote na Marques de Sapucaí e convida empresários e jornalistas estrangeiros. Paga passagens aéreas, hospedagem, e os visitantes têm direito de assistir aos desfiles. Segundo a Apex, foram gastos R$ 3 milhões em 2009 e R$ 1 milhão este ano.

Para Schaefer, os projetos especiais são uma "inovação" na promoção comercial. Ele ressalta que a entidade também promove feiras multissetoriais. Segundo Schaefer, a contratação de funcionários reforçou a análise econômica e financeira da agência. "Preciso de profissionais qualificados." Em média, um gerente de projetos recebe R$ 10 mil por mês. Ele disse que a troca de sede foi necessária porque a antiga era "insalubre".

INTERNACIONAIZAÇÃO DE BANCOS - Cenário externo favorece expansão

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que os bancos brasileiros devem aproveitar o atual cenário econômico para expandir sua presença no exterior

- Acho que os bancos brasileiros têm essa vocação, pois estão entre os mais sólidos, tendo demonstrado competência e capacidade após a recente crise financeira mundial.

Portanto, poderão se expandir até mesmo nos Estados Unidos - declarou o ministro.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que está satisfeito com o acordo de intenções firmado pelo BB e pelo Bradesco.

Ele defende uma maior atuação dos bancos brasileiros no exterior.

- Todo mundo dentro do governo sabe que é um desejo que venho trabalhando, que os bancos brasileiros, não apenas os privados, adentrem a América do Sul, a América Latina e a África - disse o presidente.

O ministro Mantega disse que a orientação do governo federal para que o Banco do Brasil intensifique seu processo de internacionalização também deve servir de estímulo às instituições privadas: - Estamos interessados que tanto os bancos públicos quanto os privados tenham um raio de operação maior, dando suporte às operações das empresas brasileiras e aos muitos brasileiros que vivem no exterior.

BB nos EUA O Banco do Brasil contratou um banco de investimento e já identificou bancos para comprar nos Estados Unidos, informou ontem o presidente da instituição, Aldemir Bendine. A instituição quer atender a população brasileira que mora nos Estados Unidos. O BB também avalia sua entrada em outros mercados da América Latina.

Segundo Bendine, foi o Banco Espírito Santo que procurou a instituição e o Bradesco para propor o investimento conjunto na África. O BES tem participação acionária no Bradesco e, por isso, já conhecia o banco.

Bendine destacou a oportunidade de os grupos brasileiros expandirem sua atuação.

- O investimento na África é estratégico. Ainda não estamos voltados para a rentabilidade. Estamos apostando no futuro e na globalização. Com a consolidação do mercado interno nos últimos anos, os bancos brasileiros mostraram uma força que lhes permite alçar voos maiores - afirmou o executivo brasileiro.

Fonte: Jornal Do Brasil (10/8/2010

Brasil tem diferenças importantes com Brics / Sergio Leo

Só a Índia, entre os países conhecidos como Brics, tem total liberdade para o câmbio; e a cotação da rúpia, moeda local, tem caído em relação ao dólar.

Também pudera, o comércio exterior indiano tem um déficit gigantesco, as importações superaram as exportações em mais de US$ 10 bilhões só em junho e, nesse mês, apesar de haver um superávit no comércio de serviços, ficaram deficitárias em US$ 13 bilhões as contas correntes do país, que incluem pagamentos de royalties e outras rendas, e transferências de moeda ao exterior. Só o apetite dos investidores permite à Índia fechar suas contas externas com um pequeno superávit. Será um bom modelo para o Brasil?

A demonstração de que só a Índia, entre os Brics, encaixa-se na definição de país com câmbio flutuante consta de trabalho recém-concluído pela Confederação Nacional da Indústria, comparando as políticas de câmbio de Brasil, Rússia, Índia e China durante a crise financeira recente. Apesar das diferenças de regimes de câmbio, todos os Brics, à exceção da China, tiveram movimentos de valorização da moeda em relação ao dólar até meados de 2008 - enquanto a China, comprando dólares massivamente, manteve inalterada a cotação do yuan.

Entre maio de 2008 e maio de 2010, mais uma vez a China destoou, valorizou ligeiramente a moeda, em 2,1%, enquanto os outros desvalorizavam, em ritmos distintos: a rúpia, 8,8%, o real, 9,2% e o rublo, submetido, como a moeda brasileira a uma espécie de flutuação "suja", quase 29%. Rússia e Índia perderam reservas nesse período, enquanto China e Brasil aumentaram as suas. (A China em mais de US$ 600 bilhões, volume quase três vezes o total das reservas do Brasil).

Curiosamente, porém, o Brasil só ficou abaixo da Rússia em matéria de turbulência na taxa de câmbio, e a Índia, apesar do câmbio livre, não mostrou tanta incerteza em seu mercado cambial. A diferença entre a situação indiana e a brasileira, de maior imprevisibilidade, tem a ver com a maior estabilidade nos fluxos financeiros para a Índia, menores e menos voláteis que os atraídos ao Brasil pelas altas taxas de juros do país. Enquanto a taxa de câmbio indiana parece responder mais a fatores estruturais, a brasileira soma, às tendência naturais da economia, as oscilações de humor do mercado financeiro, provocando o governo a intervir.

Essa forte influência dos fluxos financeiros sobre a taxa de câmbio são um dos fatores a demonstrar, segundo o gerente executivo da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, que no Brasil é necessária maior coordenação entre as políticas monetária, fiscal e comercial, inclusive dos mecanismos de defesa comercial, como processos antidumping e de salvaguardas, para evitar uma crescente deterioração das contas externas do país. Brasil não é Índia, os indianos, apesar do grande déficit comercial, estão em uma economia bem mais fechada, com mais barreiras a aumentos bruscos de importação.

Evidentemente, o câmbio não é a única desvantagem dos exportadores brasileiros, que teriam muito a ganhar com avanços na redução de carga tributária, educação da mão de obra e na melhoria da infraestrutura, de portos à burocracia alfandegária. Mas é inegável que o câmbio da moeda chinesa, estável e bastante desvalorizado mesmo durante os piores momentos da crise internacional, ajuda os exportadores chineses a conquistar mercados antes cativos dos fornecedores brasileiros.

Recente atualização ainda inédita feita pela professora da Fundação Getúlio Vargas Lia Valls Pereira de estudo sobre a perda de mercado para os chineses mostra que, em comparação com 2005, a fatia de mercado perdida pelo Brasil à China nos EUA, União Europeia e América Latina em 2008 equivale a quase US$ 6 bilhões em mercadorias. Mais preocupante é o aumento da parcela das perdas atribuídas à competição chinesa fora dos tradicionais setores de calçados e têxteis, em produtos sofisticados como celulares, máquinas e equipamentos e automóveis.

Nas vendas aos Estados Unidos, 43% da queda nas vendas de produtos cerâmicos pode ser atribuída à competição chinesa; na União Europeia, foi mais sensível a derrota para os chineses nas vendas de móveis, produtos fundidos de ferro e aço e em máquinas e equipamentos; na Argentina, embora a China ameace principalmente nos setores tradicionais de têxteis - onde mais de 90% da queda nas vendas brasileiras se deveu à opção pelos asiáticos-, sinais de alarme soam até no setor automobilístico: as perdas de mercado em automóveis atribuídas à China somam quase US$ 180 milhões, apenas 2% do total exportado aos argentinos mas quase 68% da fatia de mercado perdida pelo Brasil para estrangeiros.

Uma avaliação desapaixonada do comportamento do comércio exterior brasileiro mostra que ainda é notável o crescimento das exportações e que há folga nas contas externas para abrigar a progressiva deterioração do saldo comercial. Mas sinais como os do estudo da CNI e do levantamento de Lia Valls não devem ser ignorados; sugerem medidas de correção enquanto ainda são apenas indicadores de tendências negativas da economia brasileira.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Déficit externo e suas variações regionais

Brasil aposta em ZPEs para diversificar áreas exportadoras
Veículo: DCI - Data: 28/06/2010 - Karina Nappi
SÃO PAULO - A forte demanda interna e a baixa produção nacional alavancaram nos primeiros cinco meses as importações brasileiras. A afirmação é do diretor da Fractal, Celso Grisi. De acordo com o executivo, o Brasil precisa investir em infraestrutura, logística e pólos industriais em todas as regiões brasileiras, não somente no sudeste.
"Os déficits e quedas dos saldos comerciais nas Regiões Sul, Norte e Nordeste acontecem pela baixa diversificação da pauta exportadora em conjunto com a falta de condições dos setores industriais, agrícolas e de serviços em atender a demanda interna do País. Precisamos equipar essas regiões para que o saldo volte a ser positivo", pontuou.
Na mesma linha de raciocínio, o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Ivan Ramalho, afirmou que o próximo passo do governo é auxiliar os estados e regiões brasileiras a ampliarem sua participação no comércio internacional por meio de pautas diversificadas, de maior participação em feiras e eventos, e da abertura de Zonas de Processamento ao Exportador (ZPE).
"Vamos incentivar as regiões carentes no comércio exterior, pretendemos elevar a logística e infraestrutura nestes locais, para com isso possibilitar uma maior inserção no mercado internacional. Hoje temos o auxílio das ZPEs que possibilitam cada região a redução de impostos federais e estaduais em muitas operações, como na fabricação de produtos e na venda ao exterior. Essa atitude ajudará a elevar o saldo comercial em conjunto com outros benefícios, como o aumento dos números de mão de obra empregada", relatou Ramalho.
Outro ponto abordado pelo secretário são as parcerias com outros países, como a China, que abriu uma filial do Banco da China no Brasil para ensinar aos empresários brasileiros como adentrar o mercado chinês com mais facilidade e sucesso.
Para Grisi, o incentivo é uma ótima oportunidade para estas regiões deficitárias em comércio exterior; contudo, ele afirma que o processo é longo.
"Isso é viável num prazo mais longo. Primeiro, porque não são fornecedores tradicionais ao mercado internacional e a entrada é sempre muito lenta, requer inúmeros cuidados e conhecimentos. Segundo, porque precisa ter estrutura mais organizada, com ampla logística e investimento em tecnologia de ponta", argumentou o diretor da Fractal.
Dados
Segundo o Mdic, entre janeiro e maio deste ano a única região em que cresceu o número de exportações e que ampliou o saldo comercial foi a Sudeste. Na comparação com o mesmo período de 2009, houve um acréscimo de 169% no saldo, ao passar de US$ 1,065 bilhão para US$ 2,870 bilhões.
Em contrapartida, a Região Sul apresentou a maior queda no mesmo item comparado, ao passar de US$ 2.970 bilhões para déficit de US$ 257 milhões.
Na opinião do professor do Centro de Estudos Calil & Calil, Mauro Calil, a queda ocorre pela competitividade e mercado dos produtos brasileiros frente às mercadorias indianas e chinesas.
"O sul do País tem alguns setores predominantes, como o agronegócio e o setor calçadista e têxtil. No caso de sapatos, os empresários brasileiros perdem muito espaço com os produtos mais baratos vindos da Índia e da China, a competitividade faz com que o Brasil sofra até mesmo nos parceiros do Mercosul, como a Argentina. No caso do setor agrícola, houve uma perda das safras pela questão climática, pelas chuvas do início do ano. Podemos esperar uma melhora, mas ainda a tendência é ruim. No caso da pecuária, os frigoríficos estão migrando para o centro-oeste do País, o que faz os empresários sulistas inclusive importarem carne de outros estados, como Mato Grosso e São Paulo", relatou.
Os dados do Mdic da Região Centro-Oeste apontam uma ligeira queda do saldo comercial, que passou de US$ 2,737 bilhões nos primeiros cinco meses de 2009 para US$ 2,459 bilhões no mesmo período deste ano.
"O centro-oeste vem se dando melhor do que outras regiões pela superioridade do Brasil no agronegócio. Outro ponto importante é o aumento dos preços das commodities como a soja, carro-chefe da região, e a aceitação no mercado internacional", declarou Grisi.
As Regiões Norte e Nordeste, por sua vez, passaram de US$ 1,010 bilhão para déficit de US$ 468 milhões, e de US$ 628 milhões para US$ 39 milhões, respectivamente. "Estas regiões não têm perfil exportador, e, com o aumento do consumo, a produção nacional não está dando conta; por isso estamos comprando mais para suprir a demanda", concluiu Grisi.