domingo, 29 de agosto de 2010

Estados Unidos encaram alta dos déficits comercial e fiscal

O déficit comercial dos Estados Unidos aumentou 19% em junho, para US$ 49,90 bilhões, marcando uma máxima recorde em 21 meses, segundo o Departamento de Comércio. O déficit em maio foi revisado para US$ 41,98 bilhões. Originalmente, o déficit de maio havia sido calculado em US$ 42,27 bilhões. O resultado foi maior do que a média das previsões dos economistas, que esperavam déficit de US$ 42,7 bilhões.

As exportações caíram 1,3% em junho, para US$ 150,45 bilhões, de US$ 152,44 bilhões em maio. As importações subiram 3,1%, para US$ 200,35 bilhões, de US$ 194,42 bilhões.

O déficit real, que é ajustado pela inflação e que os economistas usam para medir o impacto do comércio exterior no Produto Interno Bruto (PIB), subiu para US$ 54,14 bilhões em junho, de US$ 45,99 bilhões em maio.

As importações de produtos de consumo avançaram 7,8%, conduzidas pelas compras de produtos farmacêuticos e de limpeza. As importações de automóveis subiram 6,6%, enquanto as de bens de capital cresceram 1,2%.

Em valor, as importações de petróleo subiram para US$ 22,60 bilhões em junho, de US$ 21,54 bilhões em maio. O preço médio do barril caiu cerca de 6%, ou US$ 4,49, para US$ 72,44. Em volume, a importação de petróleo cresceu em 32 milhões de barris, para 311,93 milhões de barris.

Os Estados Unidos pagaram US$ 28,02 bilhões por todos os tipos de produtos ligados ao setor de energia em junho, ante US$ 27,60 bilhões em maio.

As importações de produtos de consumo fabricados no exterior como farmacêuticos, brinquedos e vestuário subiram em US$ 3,1 bilhões. As importações de autopeças cresceram em US$ 1,29 bilhão, enquanto as de bens de capital fabricados fora do país, como computadores, avançaram em US$ 462 milhões. As importações de alimentos e de ração para animais aumentaram em US$ 33 milhões. As importações de suprimentos industriais recuaram em US$ 186 milhões em junho.

As exportações dos EUA de bens de capital caíram em US$ 1,43 bilhão. Os embarques de suprimentos industriais, como óleo combustível, diminuíram em US$ 1,01 bilhão. As exportações de bens de consumo aumentaram levemente em US$ 123 milhões em junho, enquanto as de automóveis cresceram em US$ 233 milhões. As exportações de alimentos, ração animal e bebidas caíram em US$ 310 milhões.

Já o déficit comercial dos Estados Unidos com a China ampliou-se para US$ 26,15 bilhões em junho, o maior nível desde outubro de 2008 e 17% acima do déficit de US$ 22,28 bilhões de maio.

O dado deve oferecer mais munição aos legisladores norte-americanos, que pressionam a administração Obama para que exija da China mudança em sua política de câmbio.

Orçamento

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos informou que o governo do país teve um déficit orçamentário de US$ 165,04 bilhões em julho. Economistas consultados pela Dow Jones previam um déficit levemente maior, de US$ 169,5 bilhões. Julho foi o 22º mês consecutivo de déficits orçamentários nos EUA. O déficit do mês passado também foi o segundo maior da história no mês de julho, atrás apenas do de 2009, de US$ 180,68 bilhões.

Segundo o Departamento do Tesouro, a receita somou US$ 155,55 bilhões em julho deste ano, de US$ 151,48 bilhões no mesmo mês do ano passado. As despesas totalizaram US$ 320,59 bilhões em julho deste ano, de US$ 332,16 bilhões no mesmo mês de 2009.

Ajuda de US$ 3 bi

O governo Obama planeja disponibilizar US$ 3 bilhões adicionais em ajuda a desempregados com dificuldades de pagar hipotecas nos EUA. Ontem, o governo anunciou o plano para acrescentar US$ 2 bilhões ao Fundo para os Mais Atingidos, anunciado em fevereiro, destinado a apoiar os mercados de moradias nos estados norte-americanos que sofreram o pior impacto durante a recessão. Também foi anunciado que o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano norte-americano lançará um novo programa de US$ 1 bilhão para empréstimos-ponte a proprietários de imóveis em risco de inadimplência.

O déficit comercial dos EUA subiu 19% em junho, a US$ 49,90 bilhões. Já o déficit orçamentário foi a US$ 165,04 bilhões em julho.

China planeja medidas para impulsionar as suas importações

O governo da China planeja anunciar um pacote de medidas destinadas a impulsionar as importações. A afirmação foi feita por um funcionário do Ministério do Comércio, depois que os dados publicados ontem indicaram que o crescimento das importações desacelerou acentuadamente em julho. As importações de julho subiram 22,7%, abaixo do aumento de 34,1% de junho e das expectativas de aumento de 30,2%.

A fonte informou que o ministério concederá uma entrevista coletiva hoje para falar sobre as medidas e não forneceu mais detalhes. Não havia um porta-voz disponível no ministério para comentar.

Mais cedo, o Escritório Nacional de Estatísticas da China informou que a produção industrial do país cresceu 13,4% em julho na comparação com o mesmo mês do ano passado, desacelerando em relação aos 13,7% de junho. A expansão foi maior do que a mediana das previsões de nove economistas, que apontava para um crescimento de 13,2%.

Já o investimento em ativos fixos nas áreas urbanas chinesas aumentou 24,9% no período janeiro-julho em relação a igual intervalo de 2009, diminuindo o ritmo na comparação com o crescimento de 25,5% verificado no período janeiro-junho. A previsão dos economistas indicava expansão de 25,3% nos sete primeiros meses do ano.

As vendas no varejo do país, também divulgadas ontem, tiveram no mês passado um aumento de 17,9% sobre as de julho de 2009, abaixo dos 18,3% registrados em junho.

Por sua vez, o índice de preços ao consumidor na China teve aumento de 3,3% no mês de julho, na comparação anual. A taxa de inflação foi menor do que a vista nos 12 meses encerrados em junho, que foi de 2,9%.

Por outro lado, as instituições financeiras da China concederam 532,8 bilhões de iuanes (US$ 78,657 bilhões) em novos empréstimos em iuanes no mês de julho, informou o banco central chinês. O total ficou abaixo da previsão de economistas, que apontava para 600 bilhões de iuanes, e também foi menor do que os 603,4 bilhões de iuanes em novos empréstimos concedidos em junho. Em geral, os bancos emprestam mais no primeiro semestre e no início dos trimestres.

Entre janeiro e julho, foram concedidos 5,16 trilhões de iuanes em novos empréstimos, 68,8% da meta estabelecida pelo banco central para 2010 de 7,5 trilhões de iuanes e a qual a instituição não pretende alterar, segundo informou. Portanto, os bancos poderão conceder mais 2,34 trilhões de iuanes em novos empréstimos até o fim do ano.

China importa milho dos EUA e intriga o mundo / Brian Spegele e Scott Kilman, The Wall Street Journal

As primeiras grandes compras de milho dos EUA pela China em mais de uma década motivaram um debate sobre se as exportações dos principais produtos agrícolas americanos estão entrando em uma nova era dourada.

Mas o lado que poderia potencialmente resolver a questão (o governo chinês) quase não fala sobre o assunto.

A euforia foi inflamada em junho, quando um navio com milho dos EUA chegou ao porto de Longkou, no nordeste da China. Foi a primeira embarcação carregada de milho americano a atracar na China em cerca de 15 anos. Ele foi seguido por outros quatro.

A China importou este ano cerca de 1,2 milhão de toneladas de milho dos EUA, o maior produtor mundial, ante um total importado de outros países de menos de 100 mil toneladas em anos anteriores.

Agricultores, corretores e economistas agrícolas dividem-se em relação às implicações desse aumento. Alguns o veem como a chegada de uma época muito aguardada de grandes exportações de milho para a China, para alimentar a população cada vez mais abastada do país. Outros acham que é um fenômeno de curta duração, causado por secas recentes.

"Seja o que for que estiver acontecendo este ano, é diferente de qualquer outra coisa" que tenha ocorrido nos últimos anos, diz Jay O ' Neil, economista do Programa Internacional de Grãos da Universidade Estadual do Kansas.

Ele acrescentou que as recentes importações de milho da China indicam que "há menos países suprindo as necessidades de um mundo em expansão e o potencial de falta de produção de milho é um risco maior para todos". A mudança "obviamente conduz a mais incertezas no mercado mundial de commodities e tende a levar a preços mais altos de commodities e maior volatilidade de preços".

Prever a demanda de milho da China é complicado pelo intenso sigilo do governo chinês. O Partido Comunista por muito tempo considerou a autossuficiência em grãos um elemento crucial para a segurança nacional, e as lideranças reafirmaram este ano que a China tem como objetivo produzir 95% dos grãos que consome até 2020. Mas os detalhes da política são guardados cuidadosamente.

A autossuficiência é amplamente vista como a razão pela qual a China quase não importou milho no passado, mesmo quando os preços domésticos estavam mais altos que os internacionais.

Ninguém fora do governo chinês sabe se os carregamentos que foram permitidos este ano são temporários ou indicam uma mudança de longo prazo. O governo mantém em segredo o tamanho das reservas, e observadores questionam a precisão das estatísticas sobre produção e consumo.

A confusão em relação ao milho é um indício de um embate maior entre a crescente influência global da China e práticas do governo que em alguns aspectos mudaram pouco durante três décadas de reforma de mercado. Espera-se que a China ultrapasse o Japão este ano como a segunda maior economia do mundo, atrás dos EUA, mas as principais políticas ainda são criadas em segredo por um pequeno grupo de líderes do partido. Especialistas estrangeiros reclamam da falta de transparência dos números oficiais, e a incerteza em relação às políticas de Pequim já turvaram outros mercados mundiais de commodities, como o de petróleo.

Buscar mais clareza pode ser arriscado: vagas leis de sigilo de Estado já foram usadas para colocar na cadeia analistas que recolheram informações que o governo considera sigilosas. No mês passado, o geólogo americano Xue Feng foi condenado a oito anos de prisão por suas pesquisas sobre a localização de poços de petróleo.

O Ministério da Agricultura da China se recusou a conceder uma entrevista sobre a política para o milho, alegando que o assunto é delicado. A Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento (NDRC), principal agência de planejamento econômico da China, também recusou pedidos de entrevista. Nem mesmo especialistas ocidentais na China quiseram discutir o assunto publicamente.

O governo Obama fez poucos comentários sobre os carregamentos americanos para o país, embora os EUA tenham eleito a expansão das exportações como parte vital da estratégia econômica.

Em um raro comentário sobre o assunto no seu site na semana passada, a NDRC minimizou a importância das recentes importações de milho. A comissão afirmou que as importações foram estimuladas pelos preços mais altos do milho no mercado doméstico, mas enfatizou que elas não vão prejudicar os produtores chineses de milho e que as reservas de grãos estão adequadas. O comunicado não mencionou por quanto tempo as importações de milho vão continuar.

Analistas concordam que a oferta de milho na China se tornou pequena com a crescente classe média, que consome cada vez mais carne, leite e ovos de animais que comem ração de milho - assim como refrigerantes que usam adoçantes à base de milho. Secas no cinturão de milho do nordeste da China nos últimos dois anos reforçaram o temor com o suprimento.

A China costumava ser um importante exportador líquido de milho, competindo com os EUA, mas as suas exportações caíram para apenas 172 mil toneladas em 2009, ante 15,2 milhões de toneladas em 2003, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA.

Analistas dizem que a China pode importar tanto quanto costumava exportar. O presidente da consultoria Shanghai JC Intelligence, Hanver Li, projetou que o país poderá ter de importar 5,8 milhões de toneladas em 2011 e 15 milhões de toneladas em 2015. Li anunciou "uma nova era das importações chinesas de milho".

Colaboraram Sue Feng e Gao Sem