domingo, 15 de abril de 2012

Faltam acordos comerciais

Olhando friamente os números, não há dúvida que o comércio internacional praticado pelo Brasil cresceu bastante nos últimos 15 anos: afinal, em 1996, o País exportou US$ 47,7 bilhões e, em 2010, US$ 201,9 bilhões. Acontece que o comércio internacional também cresceu de maneira vertiginosa nesse período, especialmente com a entrada em cena da China, e, dessa maneira, o Brasil continuou a participar de apenas 1% das compras e vendas globais.A rigor, o superávit comercial de R$ 20,2 bilhões alcançado em 2010 pelo Brasil, o menos expressivo em menos de oito anos, só foi obtido graças a uma contingência de mercado, ou seja, a elevação de preços das commodities, notadamente soja e minério de ferro, que, aliás, nos últimos dias, começaram a despencar. Não houve, na verdade, nos últimos anos, nenhuma medida estrutural que tivesse por escopo alcançar melhores resultados no comércio exterior do País.

Para o dia 4 de outubro, em Bruxelas, está marcada uma reunião de cúpula entre Brasil e União Europeia (UE), com a presença da presidente Dilma Rousseff, e essa se afigura como oportunidade única para reverter esse quadro de apatia, dando ao País um novo impulso em suas relações econômicas. Com a UE, o comércio bilateral aumentou 175% no período de 2000 a 2010, mas, nos últimos meses, a UE vem perdendo espaço no mercado brasileiro, enquanto a participação do Brasil no mercado europeu continua bastante limitada, em torno de 2% de tudo o que o bloco importa.

É verdade que vários países do bloco europeu estão em crise, mas há ainda um grande espaço para o crescimento dos negócios, principalmente se houver mais cooperação bilateral na área de tributação para reduzir o peso sobre investimentos e um bom encaminhamento das discussões sobre questões regulatórias em energia, telecomunicações, infraestrutura e matérias-primas.

Seria muito proveitoso se essa cúpula em Bruxelas pudesse também destravar as negociações para um acordo entre Mercosul-UE, que, desde 2004, esbarra em resistências dos dois lados. O setor agrícola europeu resiste a oferecer mais acesso aos produtos do Mercosul, enquanto do lado brasileiro alguns setores industriais, pressionados pela atual distorção de câmbio e pelo apetite comercial chinês, colocam-se contra a maior abertura do mercado nacional.Seja como for, o que não se pode aceitar é o imobilismo que se tem registrado até aqui, com a ausência de acordos comerciais relevantes. Para piorar, nos dois últimos governos, a tônica foi um infantil tom antiamericanista nas relações exteriores que não levou a nada. Ou melhor, contribuiu para a perda de espaço do produto brasileiro no maior mercado do planeta. Em oito anos, não foi organizada nenhuma missão para vender produtos aos norte-americanos. Dessa maneira, a participação dos EUA nas exportações brasileiras recuou de 25,5% em 2002 para 9,5% em 2010.

Por outro lado, o governo anterior procurou fortalecer os laços comerciais com os países africanos, do Oriente Médio e das Américas, ainda que o Mercosul tenha registrado poucos avanços, limitando-se a funcionar como uma união aduaneira. Vale a pena continuar investindo nessas regiões. Mas não só. É de ressaltar que com a América Central o relacionamento comercial do Brasil não passa de uma carta de intenções. Tanto que, com o México, país com mais de 100 milhões habitantes, o comércio bilateral pouco passa de US$ 5 bilhões.Diante disso, o que se espera é que, a partir de Bruxelas, o governo procure recuperar o terreno perdido, encetando novos tratados de livre comércio, dentro de uma estratégia diferenciada que pode incluir também países como Coreia, Japão, Austrália e Nova Zelândia. Na moderna concepção de governo, a política comercial é que deve marcar a política externa e não o contrário.

Escolher bem os parceiros comerciais


Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) indicam que, em janeiro, os EUA voltaram a ocupar o primeiro lugar entre os países que recebem produtos brasileiros, com um total de R$ 2,3 bilhões, superando a China, que comprou US$ 1,8 bilhão. Esse é um fato a comemorar, ainda que exista um flagrante desequilíbrio na balança Brasil-EUA que precisa ser corrigido.De fato, em 2011, os EUA venderam US$ 33,9 bilhões em produtos para o Brasil, que conseguiu exportar apenas US$ 25,8 bilhões para o mercado norte-americano, o que produziu um déficit de US$ 8,1 bilhões. Esse é um motivo de preocupação porque, afinal, o Brasil é um das raras nações que deram aos EUA a oportunidade de obter um superávit comercial.

Maior mercado do planeta, os EUA costumam comprar fora quase tudo o que a sua grande sociedade consumista precisa, assumindo déficits comerciais com praticamente o resto do mundo. Isso significa que o Brasil, oitavo maior parceiro comercial dos EUA, só conseguiu essa “proeza” porque, nos últimos anos, embalado por uma política terceiromundista, o seu governo entendeu que precisava reduzir o grau de dependência em relação ao gigante do Norte, vendendo mais para países emergentes.

Ora, uma coisa nada tem a ver com a outra, pois o Brasil poderia ter aumentado suas vendas para mercados alternativos, sem deixar de vender mais para os EUA. Isso deixa claro que o País não investiu tanto quanto deveria em feiras e outras atividades de promoção comercial em solo norte-americano.

Superada essa visão estrábica, o atual governo parece que descobriu que está na hora de usar mais a Embaixada e os consulados do Brasil nos EUA para promover os produtos nacionais, pois é assim que age o nosso principal parceiro em solo brasileiro. É de lembrar que o governo estadunidense deu mostras de estar mais interessado no emergente mercado brasileiro do que o governo brasileiro no mercado norte-americano.Basta ver que, além de atrair empresas brasileiras para que montem fábricas nos EUA e criem empregos para os seus cidadãos, o governo norte-americano abriu os olhos para a poderosa classe média brasileira, oferecendo facilidades para os turistas que desejam conhecer as delícias da Disneyworld e outras atrações.

Aproveitando esse despertar, o governo brasileiro, além de superar o contencioso aberto em relação aos aviões da Embraer, precisa aprofundar as relações comerciais com os EUA, grande comprador não só de produtos manufaturados de alto conteúdo tecnológico como de produtos químicos, ferro-liga, petróleo em bruto e café em grão. Isso não significa deixar de lado a China, país que só se interessa por produtos primários, como minério de ferro e soja.Com essa nação, é preciso alcançar um relacionamento mais equilibrado, que supere a concorrência desleal e predatória de seus produtos manufaturados, especialmente no ramo de calçados, que vem colocando a indústria nacional em xeque. Escolher bem os parceiros comerciais é fundamental para construirmos o País que queremos.