terça-feira, 10 de agosto de 2010

Déficit externo e suas variações regionais

Brasil aposta em ZPEs para diversificar áreas exportadoras
Veículo: DCI - Data: 28/06/2010 - Karina Nappi
SÃO PAULO - A forte demanda interna e a baixa produção nacional alavancaram nos primeiros cinco meses as importações brasileiras. A afirmação é do diretor da Fractal, Celso Grisi. De acordo com o executivo, o Brasil precisa investir em infraestrutura, logística e pólos industriais em todas as regiões brasileiras, não somente no sudeste.
"Os déficits e quedas dos saldos comerciais nas Regiões Sul, Norte e Nordeste acontecem pela baixa diversificação da pauta exportadora em conjunto com a falta de condições dos setores industriais, agrícolas e de serviços em atender a demanda interna do País. Precisamos equipar essas regiões para que o saldo volte a ser positivo", pontuou.
Na mesma linha de raciocínio, o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Ivan Ramalho, afirmou que o próximo passo do governo é auxiliar os estados e regiões brasileiras a ampliarem sua participação no comércio internacional por meio de pautas diversificadas, de maior participação em feiras e eventos, e da abertura de Zonas de Processamento ao Exportador (ZPE).
"Vamos incentivar as regiões carentes no comércio exterior, pretendemos elevar a logística e infraestrutura nestes locais, para com isso possibilitar uma maior inserção no mercado internacional. Hoje temos o auxílio das ZPEs que possibilitam cada região a redução de impostos federais e estaduais em muitas operações, como na fabricação de produtos e na venda ao exterior. Essa atitude ajudará a elevar o saldo comercial em conjunto com outros benefícios, como o aumento dos números de mão de obra empregada", relatou Ramalho.
Outro ponto abordado pelo secretário são as parcerias com outros países, como a China, que abriu uma filial do Banco da China no Brasil para ensinar aos empresários brasileiros como adentrar o mercado chinês com mais facilidade e sucesso.
Para Grisi, o incentivo é uma ótima oportunidade para estas regiões deficitárias em comércio exterior; contudo, ele afirma que o processo é longo.
"Isso é viável num prazo mais longo. Primeiro, porque não são fornecedores tradicionais ao mercado internacional e a entrada é sempre muito lenta, requer inúmeros cuidados e conhecimentos. Segundo, porque precisa ter estrutura mais organizada, com ampla logística e investimento em tecnologia de ponta", argumentou o diretor da Fractal.
Dados
Segundo o Mdic, entre janeiro e maio deste ano a única região em que cresceu o número de exportações e que ampliou o saldo comercial foi a Sudeste. Na comparação com o mesmo período de 2009, houve um acréscimo de 169% no saldo, ao passar de US$ 1,065 bilhão para US$ 2,870 bilhões.
Em contrapartida, a Região Sul apresentou a maior queda no mesmo item comparado, ao passar de US$ 2.970 bilhões para déficit de US$ 257 milhões.
Na opinião do professor do Centro de Estudos Calil & Calil, Mauro Calil, a queda ocorre pela competitividade e mercado dos produtos brasileiros frente às mercadorias indianas e chinesas.
"O sul do País tem alguns setores predominantes, como o agronegócio e o setor calçadista e têxtil. No caso de sapatos, os empresários brasileiros perdem muito espaço com os produtos mais baratos vindos da Índia e da China, a competitividade faz com que o Brasil sofra até mesmo nos parceiros do Mercosul, como a Argentina. No caso do setor agrícola, houve uma perda das safras pela questão climática, pelas chuvas do início do ano. Podemos esperar uma melhora, mas ainda a tendência é ruim. No caso da pecuária, os frigoríficos estão migrando para o centro-oeste do País, o que faz os empresários sulistas inclusive importarem carne de outros estados, como Mato Grosso e São Paulo", relatou.
Os dados do Mdic da Região Centro-Oeste apontam uma ligeira queda do saldo comercial, que passou de US$ 2,737 bilhões nos primeiros cinco meses de 2009 para US$ 2,459 bilhões no mesmo período deste ano.
"O centro-oeste vem se dando melhor do que outras regiões pela superioridade do Brasil no agronegócio. Outro ponto importante é o aumento dos preços das commodities como a soja, carro-chefe da região, e a aceitação no mercado internacional", declarou Grisi.
As Regiões Norte e Nordeste, por sua vez, passaram de US$ 1,010 bilhão para déficit de US$ 468 milhões, e de US$ 628 milhões para US$ 39 milhões, respectivamente. "Estas regiões não têm perfil exportador, e, com o aumento do consumo, a produção nacional não está dando conta; por isso estamos comprando mais para suprir a demanda", concluiu Grisi.

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