segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

"Guerra de moedas afeta mais o Brasil"/ Assis Moreira

O Brasil é "de longe" o maior perdedor na guerra de moedas, entre sete grandes economias emergentes, na avaliação do Nomura Securities, de Nova York.

A instituição comparou a inflação, taxa de cambio e desempenho do mercado desde o começo da chamada guerra cambial. Usando um sistema de pontos, diz que as perdas do Brasil superam as sofridas pela Índia, China, México, Coreia do Sul e Turquia. Para Nomura, um dos mais importantes transmissores da alta de liquidez deflagrada pelos EUA ("quantitative easing") sobre as moedas dos emergentes tem sido o preço das commodities. Desde junho, o índice de commodities CRB aumentou 32%, depois de ter caído 12,4% no semestre anterior.

Maior preços de commodities deflagrou pressões pela valorização das moedas de emergentes por causa do risco de maior inflação. Mesmo países com forte controle cambial, como a China, perdem competitividade em relação aos EUA por causa da alta de custos domésticos. Ao mesmo tempo, o controle de capital tem sido considerado ineficaz em termos reais. E maior inflação conduz a alta de juros, tornando ainda mais difícil evitar a apreciação da moeda.

No caso da inflação, o Brasil registrou a maior deterioração, seguida pela China e Turquia, embora a taxa média do grupo de emergentes tenha sido mitigada por forte queda de preços na África do Sul. Com relação ao cambio, a África do Sul e o Brasil registraram a maior apreciação de suas moedas em relação ao dólar americano, em termos nominais, em parte por causa da alta nos preços das commodities (produtos básicos e semimanufaturados). Em termos reais, a África do Sul continua a liderar seguido pela Turquia. Por sua vez, para 2011 o Brasil é o único dos sete emergentes que terá juros mais altos comparado com projeções de junho. China e Índia também vão elevar o custo do capital.

Para Tony Volpon, principal estrategista do Nomura para América Latina, nesse cenário o Brasil é o maior perdedor por causa "de políticas inconsistentes ao longo do tempo". Considera que a tentativa de frear a valorização do real através de controle de capital "não foi bem-sucedida por causa de mudança de ênfase nas políticas".

Segurando a apreciação do real, a inflação veio através de alta principalmente nos preços de alimentos, causando por aí uma apreciação da taxa de cambio. Agora, com mais inflação, o Banco Central sinaliza que poderá aumentar os juros este ano, o que levará a outra rodada de apreciação nominal da moeda, anulando os efeitos da elevação da taxa de IOF sobre o cambio.

Fonte: Valor Econômico (6/1/2011)

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